um “Sim” que muda uma vida – a história de Christiane, Missionária Secular Scalabriniana

Christiane

Christiane, missionaria secolare scalabrinana

Meu nome é Christiane, sou alemã e venho de Ingolstadt, uma cidade perto de Munique. Anos atrás, participei de um dia de formação na diocese de Rottenburg-Stuttgart. Naquela época, era incomum encontrar pessoas de outras nacionalidades num ambiente assim. Naquela ocasião, porém, uma das presentes não era alemã: era uma missionária secular Scalabriniana. A gente se conheceu e ela me convidou para uma reunião internacional de jovens no Centro de Espiritualidade dos Missionários Scalabrinianos em Stuttgart.

“Você realmente me ama?”: O convite de Deus para uma alma

O que ficou comigo daqueles dias e o que me fascinou? Antes de tudo, a profundidade e a comunhão em que vivemos entre pessoas de línguas e histórias tão diferentes. O encontro com os migrantes que vivem à sombra de nossas belas cidades ficou em meu coração: abri meus olhos para a pobreza presente em meu país e, ao mesmo tempo, para a generosidade e a capacidade de sacrifício dessas pessoas, para a sua riqueza. E na noite de Páscoa descobri um Deus que é Pai, Pai de todos, e que me perguntava: “Você me ama de verdade? (cf. Jo 21,15). Mas eu não estava pronta para dizer sim, para deixar tudo e confiar-me totalmente a Ele. Senti Sua pergunta arder dentro de mim, mas respondi ‘não’ e fui para Israel.  Eu me joguei na vida social e colaborava com vários grupos políticos de esquerda. Eu tinha muitos compromissos e mil sonhos para o futuro. Mas eu queria fazer algo contra a injustiça que via em todo o mundo. Estava procurando por pessoas autênticas e algo que desse sentido à minha vida.

Hoje, olhando para trás, descubro que fui acompanhada nesta busca por dois bispos, embora eu, como boa alemã, tenha tido pouca simpatia pelos bispos. O primeiro é o bem-aventurado J. B. Scalabrini. O outro é São Oscar Romero, que morreu como mártir em El Salvador. Quando ouvi falar de sua morte, surgiram em mim perguntas profundas: como alguém pode dar sua vida dessa maneira? Eis que surge a oportunidade de passar um ano no Brasil, graças a uma aliança com uma comunidade de base em uma favela no nordeste. Eu fui. Vida e morte, violência e fome eram ocorrências cotidianas. Entretanto, toquei com minha mão uma esperança sem limites, uma fé simples e autêntica. Foi um ano que me marcou profundamente e virou minha vida de ponta-cabeça: o ano em que conheci Cristo crucificado e ressuscitado nos pobres e em mim mesma.

O encontro com Scalabrini

Durante meu estágio no Brasil, fui também para São Paulo. Naquele dia era o Dia do Migrante e uma procissão de pessoas pobres e crianças andava com canções e cartazes entre os edifícios mais miseráveis e arranha-céus do centro. E quem eu vi andando com eles? Algumas missionárias seculares Scalabrinianas. Sete anos haviam passado desde a primeira reunião na Alemanha: eu não esperava por isso. Fiquei três dias com as missionárias e me senti em casa naquele pequeno apartamento no meio dos guetos. O encontro com elas me tocou profundamente, mas depois desses três dias renovei meu “não” e fui para Foz do Iguaçu.

Enquanto eu visitava a igreja de São Miguel por conta própria, quem estava na minha frente? Scalabrini! Sua imagem em um grande cartaz. Mais uma vez, eu não estava esperando por essa. Fui até ele e disse: “O que você quer de mim?” Pouco depois, o pároco se apresentou e, ouvindo que eu era alemã, me disse: “Sou um missionário Scalabriniano e tenho um irmão missionário na Alemanha, em Stuttgart! Eu ainda não o tinha conhecido e Scalabrini já estava brincando comigo. Antes de voltar à Europa, fui novamente para São Paulo e fiquei quinze dias com as missionárias para conhecer melhor sua vida e o carisma Scalabriniano. O que mais me impressionou naqueles dias? A paixão incansável pelos migrantes, paixão que se expressava como primeira acolhida, mas também como conscientização para chegar aos pontos nevrálgicos da sociedade, onde as decisões são tomadas, e como presença “ponte” entre ricos e pobres, entre os migrantes da primeira hora e os indocumentados de hoje.

Dizer sim a Cristo: o caminho para a felicidade

Era um dos últimos dias em São Paulo e eu estava na Catedral para a missa comemorativa do aniversário da morte do bispo Oscar Romero. No momento da coleta das ofertas, notei que a senhora idosa que estava bem na minha frente, descalça e vestida com trapos, estava indo em frente para levar sua oferta. E eu me perguntei: “E você, o que vai dar?”. Então, percebi que Deus estava pedindo mais de minhas mãos, de meu compromisso social: Ele estava me pedindo tudo para que Ele pudesse me dar tudo, e eu disse sim, um “sim” que mudou completamente meus planos. Alguns meses depois, começou para mim o tempo de formação para preparar-me para a vida missionária Scalabriniana com os votos de pobreza, castidade e obediência, celebrados em Piacenza, em 1994.

Uma das dimensões que recebi nesses primeiros anos é precisamente a gratidão pelos missionários scalabrinianos através dos quais nós, missionárias, viemos a conhecer Scalabrini. E Scalabrini tem continuado a brincar comigo na minha vida diária. Por exemplo, durante os anos do meu envio missionário em Roma, eu me encontrei com as outras missionárias procurando por um novo apartamento, e quando o encontramos, descobrimos que da cozinha havia acesso a uma pequena varanda com uma janela com vista para o altar da igreja adjacente. Como não poderíamos pensar em Scalabrini e sua paixão pela Eucaristia, o fermento oculto de toda sua vida, de todas as suas intervenções e de sua esperança.

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